Uma Igreja Governada por Números…
Uma Igreja Governada por Números…
por: Pr. Marcelo Lemos
Eu gostaria de iniciar o nosso bate-papo de hoje transcrevendo um pequeno artigo do Jornal “O Estandarte”, publicado em 11 de Março de 1893. Para quem não sabe, este periódico é um órgão oficial da Igreja Presbiteriana Independente (IPI). O artigo, apesar de ser apenas uma pequena nota, despertou o meu interesse, pois, apesar de não ser um tratado teológico, deixa transparecer claramente qual critério era usado a mais de 100 anos para verificar o “sucesso” de uma Igreja.
“Quando em 1889 desembarcaram em Porto Alegre os primeiros missionários da Igreja Protestante Epíscopal, tudo para eles jazia nas mãos de Deus. Lidando com serias dificuldades para se exprimirem na língua portuguesa, não sendo conhecidos entre o povo e, mais do que isso, tendo de lutar com as falsas idéias que muitos formam no Brasil acerca das Igrejas Protestantes, seu caminho foi, ao princípio, escabroso e difícil.
No entanto, no curto espaço de três anos, Deus tem abençoado maravilhosamente sua obra. Em 1889 a missão do Rio Grande do Sul, sustentava apenas dois presbíteros e um catequista; hoje, ela sustenta quatro presbíteros e quatro catequistas!”- Tentamos atualizar a linguagem para uma leitura mais facilitada.
Desafio você a contar esta notícia na maioria das reuniões ministeriais de hoje. Você será ridicularizado pela maioria. Onde já se viu afirmar que três anos de duro trabalho é “curto espaço de tempo”, e que é “ser abençoado maravilhosamente” poder contar com alguns presbíteros e professores?
Vivemos hoje, como afirmou alguém, na era da “religião show”. Tudo precisa ser um espetáculo. Qual o padrão de sucesso eclesiástico em nossos dias? Um breve olhar a nossa volta nos dará a resposta.
Podemos olhar para os auto-denominados “levitas”. Nada de pânico! – os levitas bíblicos não voltaram; estes tiveram seu ministério suplantado pela Cruz de Cristo (Hebreus 7.11). Refiro-me aos “levitas” que tocam musicas em “dó-re-mi”, e fazem longas ministrações chorosas em algum momento antes da pregação da Palavra.
Certamente você já viu algum exemplar por aí.
Você, provavelmente, conhece também os “heróis” dos nossos “levitas”. Como não? São os “levitas profissionais”; aqueles que vendem Cd’s a R$ 30.00, e cobram a partir de R$ 5.000,00 por uma noite de “adoração”. Claro que esta tabela pode ser inflacionada se você estiver procurando por “adoração” que seja também “profética” – neste caso, você encontrará preços na casa dos R$ 30.000,00.
Recentemente fui a ao congresso de um grande ministério que continue lendo ... havia convidado uma “levita” para adorar. Convidado é força de expressão, uma vez que a moça cobrou R$ 7.000,00 para cantar duas ou três músicas!
O grande circo chamado “Religião Show” não põe a venda apenas os “levitas”. Neste milionário balcão de negócios – que nem imposto paga, diferentemente de qualquer trabalhador honesto – você pode vender e comprar pregadores também. Você já tentou convidar um pregador “estrela” para pregar na sua Igreja? Faça um teste!
Algumas pessoas me questionam dizendo o seguinte: “Mas, não é Bíblico o obreiro viver de seu trabalho??!”. A isto eu normalmente respondo: “Sim! Mas, diga-me, a sua Igreja paga quantos mil para os obreiros que dão o sangue dia e noite em favor das ovelhas?”. Ora, meus amados irmãos; deixemos a hipocrisia! Basta olhar para os fatos para ver que o preço pago a tais “estrelas gospel” não tem nada haver com honrar um preceito bíblico; antes, tem haver com a sede insana e apóstata por uma religião show.
Recentemente entrei no site de um famoso pregador “mirim”, onde encontrei uma reportagem sobre o sucesso que ele vem fazendo. Numa espécie de entrevista, o pai [ou mãe?] do garoto dá sua explicação para tamanha proeminência: “As igrejas gostam de uma atração”. Verdade! Gostei da honestidade! E, claro, elas não apenas gostam de uma atração, mas estão dispostas a pagar qualquer preço para tê-la.
Em 2011, nós assembleianos, estaremos comemorando nosso primeiro centenário. Algo que tenho dito às pessoas é o seguinte: temos nas nossas mãos a oportunidade e o privilégio de escrevermos os próximos cem anos da nossa História. Mas, como seremos lembrados no fim deste século? Os crentes do futuro nos verão como pessoas que se firmaram na verdade, ou como parte da nuvem levada em roda pela religião show?
Por este motivo, preocupo-me especialmente com os jovens obreiros. O futuro ministerial deles será o futuro da nossa Igreja. O mesmo vale para qualquer outra denominação cristã. De igual modo, o futuro ministerial deles será o reflexo dos seus heróis de hoje. Ou seja, o futuro ministerial de um jovem obreiro está bastante ligado às pessoas nas quais ele se espelha.
Dito isto, resta-nos uma questão assustadora: quem são os heróis evangélicos de hoje? São os expositores bíblicos? São os teólogos com bagagem cultural e bíblica? São ministros comprometidos com uma verdadeira e profunda vida no Espírito? Quem são os nossos heróis? Jovem obreiro; quem são os seus heróis? Ricardo Denham, em artigo na revista Fé Para Hoje, escreve:
“Uma das tendências humanas é seguir líderes que muito estimamos. Estes líderes se tornam nossos heróis e tendem a servir de modelo para nossas vidas. No entanto, temos de perguntar a nós mesmos se nossos heróis são pessoas cujas vidas estão conformadas ao padrão da Palavra de Deus. Paulo exortou os crentes de Éfeso a serem “imitadores de Deus”.
“Nossos heróis evidenciam que são imitadores de Deus? Eles se assemelham ao apóstolo Paulo, que, reconhecendo a necessidade de fornecer um exemplo contemporâneo, advertiu seus discípulos: ‘Sede meus imitadores, como também sou de Cristo’ (I Cor. 11.1)”?
Uma igreja governada por números; um povo adepto da “Religião Show”, em nada diferem do mundo de onde diz ter saído. Tal igreja não é igreja, é mundo, é pecado. Pode ser que caminhar na contramão posso nos dar, com muito esforço, apenas “quatro presbíteros e quatro catequistas”; mas no fim, o que importa é que o Senhor não irá nos julgar pelos nossos números, mas sim, pela nossa fidelidade a Sua Palavra.
Fonte: Olhar Reformado
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